domingo, 23 de fevereiro de 2014

Preto Fortunato




Fortunato é preto. Ele sabe. Sempre olha pra sua pele tentando valoriza-la. Bom, muito bom. Fortunato teve riquesas. Porta-voz do povo. Foi. Banqueteado, elogiado, orgiado. Fortunato sempre foi de se empaturrar. Fortunato, Fortunato, pede o que quiser que será contemplado. Fortunato gosta de canetas, gosta de palavras, gosta de ramos e de rosas... brancas.
Fortunato é líder. Gosta do reconhecimento, do momento e das glórias. É arrojado, é mulherengo, é um preto nato. Fortunato pede ajuda. Pra se livrar das enrascadas, não ser mais cumplices das enrabadas. Fortunato não é tão bom de sacada. Infelizmente... Mas gosta de uma trepada. E tem uma mulecada. Herdeiros de Fortunato não sabem nada. Fortunato deve, deve e não ao santo agradece. Não agradecia. Agora agradece.
Fortunato é preto. Faz questão. Levanta a mão. Faz obrigação. É preto, sim ou não? Fortunato quer reconhecimento. Anda cuidando bem dos rebentos. Tem neto. Exemplo correto ou quase. Fortunato retoma velhas alianças, pois tudo aquilo que é colocado sempre é esquecido quando a valorização é ato. Fortunato fala bem baixo. Conspiração. Fortunato fala bem alto. Confusão. Fortunato sabe que o tempo urge. Pressão, coração, solicitude. O que fazer, Fortunato? Não conseguiu o seu trocado. Solidão. O que?
Não existe moral, existe defesa da natureza. Nem que seja fodendo o outro, defende-se a natureza. O valor, precisamos de valor. Precisamos transitar entre as esferas e ter o nosso nome gravado na história. Safadeza, esperteza, oportunismo, discórdia. Não importa! Repita comigo: Não importa. Por que?
Porque não existe moral. Aniquilaremos os nossos. Valorizaremos os nossos. Mataremos os nossos.

Fortunato quer sobrar. Ele e alguns seus. Até onde der. “Estarei sempre contigo, Fortunato.” Disse o branco que perdeu a eleição. Talvez seja isso...