sábado, 27 de dezembro de 2008

Tentativa de falar de amor contigo




As crianças cantam lá fora
Enquanto nos amamos aqui dentro
Horas e horas de seco intenso
E quando descansamos
Ouvimos o coral
Você levanta nua
Vai pegar um suco
Pois estamos com sede
Irá resolver por hora
Pois a sede é do coração
Traduzida no corpo
Limitada pelas mãos
Você volta nua
E eu gostaria de lhe receber
Com uma flor
Mas os lábios estão sedentos
Para percorrer seu corpo suado
Cadê o romantismo nisso tudo?
Eu excitado
Com você a meu lado
Triplicando a hora do ato
Com nossos corpos ficando cansados
E você pedindo para recitar algo
Eu admirando sua beleza de fato
Gozamos
Gozamos
Gozamos
As crianças param de cantar
O silêncio toma conta da casa
Assim percebo a sua respiração
A batida do seu coração
O formato do seu rosto com os olhos fechados
Aí percebo
É bom ficar do seu lado
Eu não quero sair do seu lado
Eu não tenho coragem de te deixar
Tá doido?
Crianças?
Continuem cantando
Pois quero continuar trepando
Quem estou enganando?
O amor não é algo que se espera...

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Mundo Disputado


O sono adentra as entranhas
A cama é a grande guia
Mas no momento não tenho cama
Nem sou porco para dormir na lama
Então eu sonho de olhos abertos
O revolucionário lê o manifesto
Mas eu não dou a mínima importância
Aí percebo o quanto estou alienado
Com fome e sem um trocado
Esperando abrirem a porta
Para ao menos eu filar um sanduíche
Pensamentos voam sem vento
As expectativas eu busco no remendo
Dentro de possíveis metas
Transições
E trajetórias
Percebo que não tenho glórias
E meus pés e mãos estão inchados
De tanto trabalhar
Para chegar a lugar nenhum
E o lugar nenhum se torna algum
Quando olho para o lado
E reconheço outros alienados
Preparados para execução
Os controles são remotos
E remota é a possibilidade
De mutação
Então o revolucionário grita
E vez de acordar
Eu durmo de vez
E sonho
Com os opressores destituídos
E a exclusão abolida
E quando ia casar com a mulher bonita eu acordo
Merda!
O que me resta é chutar o balde....

domingo, 19 de outubro de 2008

Tributo aos meus desejos


Estava de cabeça baixa
Apenas olhando seus pés
pois queria mesmo que você experimentasse
um novo viés
mas esse viés se tornou furado
e não consigo disfarçar a ereção do seu lado
e olhando seu corpo dos seus pés aos cabelos da nuca
meus pelos arrepiam te imaginando nua
e nas práticas de felação que você se amarrou
eu queria mesmo é penetrar
sem fazer dor
seria prazer
ter você
seu corpo
seria prazer
é, seria
pois eu sou grato
pois já enxergo sua alma
e já sinto ela gozar
sua alma gozar
mas agora preta
mais do que nunca
quero sentir seu corpo exalar
quando você gozar nos meu braços...

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Cotidiano Parte VII ( Será o final?)




Não ajeite o sutiã querida. E como eu fico? Não fica. Aí nem vale a tentativa. E assim vamos criar novas alternativas diante do caos reinante. Caos reinante? Você é o messias agora? Porra, não gosto quando você me encareta. Você não gosta de quase nada. Gosto sim. Gosta nada. Gosto. De que? De você. Ah, seu bobo, que coisa mais batida. É batida, mas você gosta, você tá toda cheia.
Ando sem grana pra porra nenhuma. Gostaria de comprar flores, caixa de bombons, ir a um restaurante. Cumpri essas exigências relacionais. Exigências relacionais? É. Sei lá, não gosto dessa idéia de cumprir certas exigências quando se relaciona co alguém. Não gosta. Não, não gosto. Então não cumpra. É, tem razão. Tenho? Tem ou não? Olha, se você não estiver preparado para propor o diferente do que é habitual, nem adianta me dar razão. Então vai tomar no seu cu. Ha, ha, ha, ha...
Eu tô afim de fazer algo diferente. O que? Tá vendo esse mel? Tô. Quero lambuzar seu corpo e depois me deliciar. Ai, pára, você é muito safado. Sou? É, mas é meu safado. É preta, gosta ein? Ah, eu gosto, você não? Gosto principalmente quando te pego com força e há gemidos pedindo mais. Pára preto, assim eu fico envergonhada. Fica não, fica.
Acorda preto, acorda. O que foi? Gozou e dormiu. Também, fazer amor contigo cansa. Eu não tô cansada! Não? Não e ainda por cima eu quero mais. Mais? É, mais. Então vamos. O negócio básico é termos estabelecido que a experimentação é o melhor caminho, ou seja, existem tantas possibilidades, tantas que a cabeça gira a 360º . E daí preta? E daí?
O telefone tá tocando preto. Oi? Tão te solicitando aqui para trocar a película da filmadora. Pode deixar que já to indo...

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Cotidiano Parte VI


Rapá, você é esquisito mesmo! Não tenho te pedido pra fazer a parada? É mesmo? É Mané, é mesmo. Me deixou sem ação ein. Quem disse? Pô mané, você ainda pergunta? Tá ficando doido é? Foi mal. Foi mal nada, foi péssimo.
Estava atordoado com a cena vista. Nunca imaginei que ela fosse assim. Aliás, ando inocente ultimamente. Não imaginar que ela era assim foi um erro grave. Grave? Chego na sala de mansinho. Ouço gemidos. Preparo-me para eventuais contratempos. Adentro a sala e assinto a cena inóspita. Ela sendo penetrada violentamente por trás. Ela estava de quatro. Sem conexão com a realidade.
Estou triste por ter sido ludibriado por tanto tempo. Estou impotente por não cumprir o combinado. Só não consigo chorar. Devo ter perdido a sensibilidade. Quanta idiotice. Tô cansado. Resolvo ir ao bar tomar uma cerveja e esquecer um pouco de vida. Até que a cerveja está gelada. Uma coisa a não se apreciar é a minha atual conduta.
O telefone toca e vejo o nome dela. Não atendo. Já estou na minha quarta cerveja. Bêbado, resolvo ir para casa. Abro a porta cambaleando e ela está me esperando com uma cara de poucos amigos. Sento ao lado dela no sofá, procuro o controle da TV. A TV é ligada e fecho os olhos. Durmo. Recebo alguns tapas no rosto, mas não adianta muito. Álcool que é sonífero para mim.
Acordo e vejo o aparelho de DVD quebrado no chão. Deve ter sido ela. Bom, ela foi embora. Compensou. A minha cabeça dói. O camarada chega. Está na gaveta a parada. Sério mesmo? É rapá, só pegar. Ele já está com a parada em mãos. Pô, você é esquisito mesmo! Tava na gaveta o tempo todo e você não disse nada! Só foi para manter um drama. Você é esquisito! Sou mesmo. E as coisas continuaram em curso....

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Cotidiano Parte V


O beijo é molhado. Coloco a mão por entre as pernas dela e sinto sua buceta molhadinha. Tenho tara por essa pretinha, não agüento ficar perto dela sem ao menos lhe fazer um carinho. Sou definitivamente apaixonada por ela. E não me arrependo disso.
Ela está nua na minha frente. Nua e esperando um pedido. Qualquer um. Peço para ela massagear o clitóris. Bem devagar. Assim, devagarzinho. Pergunto se está gostoso. Sim, tá sim pretinho. O rosto dela começa a se transformar. Começa a reagir ao estímulo. Poderia dizer que é deformação ou algo parecido, mas não o é. É prazer e prazer não deforma, transforma. A deformação é uma transformação, não é? Talvez! A deformação te dá um caráter negativo. Ela está prestes a gozar. Assim eu não agüento pretinho. E assim ele explode. Liberta-se. Goza.
Pego seu corpo cambaleante e coloco na cama. Faço carinhos na sua testa e lhe dou um beijo tranqüilo. Ela sorri e diz ter sorte de me ter encontrado. Por que? Você é carinho. Já fui questionado sobre assumir um comportamento que poderia ser encarado como uma estratégia para acompanhar a demanda. Não gostei do questionamento, mas confesso que ser assim me traz muitas regalias.
Beijo seu pescoço demoradamente. Parto para seus seios médios e chupo até não poder mais. Desço pelo ventre, virilha. Sinto sua bucetinha molhadinha novamente e agora é a vez da minha língua tomar conta da relíquia. Ela se transforma. Me arranha. Puxa meus cabelos. Grita. Diz que sou safado. Geme manhosamente e goza. Duas vezes pretinho? Tá me deixando maluca...
Vou à cozinha tomar um copo de leite. Ele vem e me abraça por trás. Logo fico animado. Estamos nus. Ela segura o meu pau e alisa-o. Até quando trocaremos carinhos e prazeres? Já tinha feito essa pergunta pra ela e ouvi que envelhecer comigo seria o ideal. Eu realmente gosto dessa preta. Ela é linda, mas envelhecer é foda....

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Cotidiano Parte IV


Estava lendo um artigo que falava sobre os riscos que se tem ao apostar em algo. Geralmente a aposta já é um risco por si só, então o processo se torna redundante. Por que eu tô lendo isso, então? Ah, esquece o destaque. O celular toca. Olho o número e não reconheço. Atendo pra ver qual é. Alô. Tá bom, já estou indo. Besteira. Só um encontro casual para resolver um problema bobo. Tomo um café para que os pensamentos fluam de uma maneira mais compassada. Vou me encontrar com a figura.
Perto do local combinado observo um jogo mais do que manjado para arrancar grana de otário. 3 potes e uma bolinha. O jogo é adivinhar onde está a bolinha. A questão é a rapidez que a bolinha é escondida e sempre fica uma pessoa, parceira do embaralhador, que aposta na primeira vez e ganha, estimulo para os curiosos apostarem. E tem gente que cai nessas coisas ainda. Sempre.
Ela está me esperando já faz tempinho. Vejo pela sua expressão de insatisfação. Dou-lhe um beijo carinhoso e pergunto o que está havendo. Ela me explica e meu pensamento ecoa: “puta que pariu, que merda”. Eu digo que é mole, abro a carteira e lhe dou um dinheiro. Combinamos para ela me fazer uma visita a qualquer hora e nos despedimos com um beijo caloroso e um abraço apertado. Quanta idiotice para uma pessoa só e ela achando que eu poderei resolver o problema facilmente. E eu resolvi tranqüilamente. Não quero, nem preciso ter essa habilidade. Está na hora de me ausentar um pouco.
Já estou em casa degustando a goiabada e a campainha toca. Sou obrigado a levantar de meu sofá confortável para abrir a porta. Abro meio que insatisfeito e é ela que está na minha frente. Pergunto o que está acontecendo e vejo na mão dela um tabuleiro de xadrez. Eu até jogo xadrez, mas o que ela está fazendo com o tabuleiro? Eu pergunto e ela diz que quer fazer uma aposta. Se ela ganhar eu vou ter que prometer parar de desmerecer as pessoas e fazer as coisas com á vontade. Idiota. Ela nunca me ganhou no xadrez. Aceito a aposta. Demora e ela me ganha pela primeira vez.
Cai na armadilha da estratégia. Sucumbi a aposta. Preciso rever meus conceitos. Sou um imbecil mesmo...

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Cotidiano Parte III


Eu observo essa multidão em busca de uma solução para um segmento de sociedade vigente. Besteira. Eles se matam, pois não têm a paciência necessária para ouvir o que o próximo tem a dizer. Ando de saco cheio com essas práticas. Enxergo algumas pessoas assim também. Sento na plenária e ouço alguns discursos interessantes, de embate, de garantias, de produtividade e eficácia da militância. Poucos ouvem. Absorvo a informação e me foco em outros pormenores. As pessoas conversando, transitando, divagando e intervindo na plenária. Estou sem saco nessa porra. Resolvo sair.
A rua está movimentada e como sempre alheia ao que está acontecendo dentro do teatro. Aliás, a grande problema dos movimentos é a adesão. E a prática? As ações se concretizam? É tudo blá, blá, blá como diz um grande amigo. Eu estou acreditando seriamente nele. Olha que eu estou.
Que preta linda! Nesses encontros sempre encontro pessoas interessantes para observar. Eu sou um contemplador declarado e às vezes vai contra a minha vontade transformadora. Na verdade eu deveria estar fazendo o diferencial, até mesmo nas investidas. Eu ganharia mais fôlego com certeza. A preta anda, conversa, ajuda a carregar pratos, dança jongo e presta atenção nos palestrantes. Eu? Eu só contemplo. Os espaços para ações diretas perdem seus significados com a demora e acontece o óbvio. Ela fica aborrecida e me ignora. Eu sabia perfeitamente que isso iria acontecer como sempre acontece. A tolice é a percepção acompanhada de não-ação. Tolos.
No final sou afrontado. Disseram que deixei a desejar. Que traí os ideais e compactuei com a derrocada do processo. A disputa de poder cega as pessoas. Elas fazem de tudo para ter o poder. Aí os verdadeiros se tornam falsos e os falsos se tornam verdadeiros. E quem sai bem na foto? Eu não saí. Sou verdadeiro ou falso? Depende do ângulo. Branco tem poder, negro quer poder... Negro tem poder, branco quer poder... Quando todo mundo vai sentar-se à mesa nessa porra?

terça-feira, 22 de julho de 2008

Cotidiano Parte II


A dor de cabeça incomoda. Então nada mais óbvio do que tomar um comprimido. O cachorro late com o movimento das ruas e eu tenho que resolver o problema. Porra, sempre sobra pra mim. E aí doidão? Já resolveu? Nem comecei ainda, meu nego. Porra, tu tá fudido ein. Rapá, nem me fala, fudido e mal pago.
Ela toma banho não se preocupando com o tempo. O sabonete desliza pela suas curvas com a naturalidade que minhas mãos tinham. Tinham? Em pensamento, em pensamento. Ela sai do banho e passa o hidratante de amêndoas. Coloca o belo vestido florido e se prepara para sair. A companhia toca. Sou eu. Ela pega o violão e vai me atender. Toca. Sou eu. Ela pega o violão e vai me atender. Estamos indo ao lugar combinado e as vezes fico puto quando me dão essas missões. Ninguém percebe o risco existente nesse tipo de tarefa. Conversamos bastante. Rimos bastante. E o que rola são amenidades. O tempo passa e chegamos ao local combinado. Aguardo apreensivo enquanto ela adentra para acertar os detalhes. Coloco a mão na cintura para prevenir eventuais desalinhos. Ela volta e diz que está tudo ok. Ufa... relaxamento normal diante do fato que irá ocorrer agora. Ela tira o violão da capa e pluga na mesa de som. A melodia amplificada toma conta do recinto e todos ficam felizes. Tudo acaba e no final peço o violão para ela cantar aquela canção que compus um tempo atrás: “não sou nada diante do acaso, não tenho medo do seu despacho, não adianta quebrar as expectativas, infelizmente garota, você não faz mais parte da minha vida”.
Vem cá mane, onde residia o perigo nisso tudo? O perigo? Ela sempre foi a mulher da minha vida e sempre não conseguimos ficar junto. Quem pediu para acompanhá-la foi um grande amigo que está noivo dela e fiquei com um receio de rolar algo indesejado que poderia culminar numa briga generalizada. É, isso é foda mesmo, mas e aí? Levou ela pra casa? Levei, mas rolou o que não deveria. O beijo? Sim. Maneiro, e seu amigo? Esquece meu amigo, ele só irá saber se você estiver gravando essa conversa. Ha, então você tá fudido. Estou a muito tempo...

terça-feira, 15 de julho de 2008

Cotidiano Parte I


Ela liga pedindo um encontro. Eu não quero encontrar ninguém. O fim de chamada contrasta com a última mordia na maçã. Quanto pecado junto minha querida. Releio uns documentos para entregar logo mais. Vejo as fitas amontoadas na mesinha da sala. Todas datadas e mais ou menos conservadas. Decido assistir uma. Ela dá voltas pelo quintal com a bicicleta como se fosse criança. E fica. E fica. Enjoado de filmar, peço-a para parar. Ele me ignora um sorriso de orelha a orelha. Tempos felizes. Tiro a fita do velho vídeo – cassete. Tenho que convertê-las para DVD. Consulto a hora. Estou atrasado. Saio de casa apressado para o trabalho. Apresento o relatório mensal do meu setor. O dia já foi cumprido. Vou almoçar e não volto para o trabalho. Resolvo dar uma volta.
Estamos tentando chegar a algum lugar juntos e o que recebe? Um ponta-pé no meio da bunda. Daqueles para deixar marca. Eu me sinto assim diante de minha última relação. Já tive o tato para tentar modificar os meus sentimentos com relação a experiência. Se é para rolar assim que role, ou melhor, se rolou assim que assim seja. Meu momento é de introspecção. Sem ressalvas ou glórias. Só quero me concentrar nos singelos afazeres do cotidiano. Sem grandes esforços ou desprendimento de energia extra. Vamos vivendo, caminhando e seguindo as regras conforme deve ser. E como deve ser? Boa pergunta...
O horário do encontro está próximo. Eu até estou no local combinado. Gostaria de saber o que ela tem a dizer. Boa e velha desculpa, o que ela tema a dizer... definitivamente não sou bom em quebrar amarras. Se livrar via fuga pior ainda. E ainda não tenho certeza de que encarar a situação é o melhor caminho. Ela chega. Bonita como sempre. Lânguida como sempre. Dengosa como sempre. Ela diz oi e me abraça chorando. Pede desculpas. Chora, chora, chora. Nos olhamos e ela tenta me beijar. Eu a afasto. Ela quer explicação, mas eu não dou. Dou-lhe um soco no nariz. Ela sangra. Empurro-a. Ela cai indefesa. Chuto suas costelas. Ela desmaia e eu sorrio. Mentira, to de caô. Não teria como fazer isso. Não agrido fisicamente ninguém. Só uns palavrões e algumas colocações impactantes para humilhar. Ah, não sei o que dizer.
O relato já encheu e o que aconteceu depois, depois resolvemos. Depois conversamos, já é? Já é não, já foi.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Vertigem


O corpo está imóvel. A tentativa de movimento é em vão. Não entendo. Tento mover os braços. Negação; tento mover as pernas. Negação. Abro os olhos com dificuldade de entender o porquê da abstinência. Visão turva. Um corpo cinza, disforme, bailando no prisma. A mente não filtra as cores. Perto, longe. Cadê o corpo? O som se propaga. Chave, roupa, cinto, elástico. A respiração descompassada. Agora que percebo isso. Onde estou? Sinto frio. Moscas pousam no meu corpo. Será mosca mesmo? Algo macio nas minhas costas. Tento jogar-me para esquerda. Sem forças. Mexer nos lábios. On... on... on... Onde estou? O cinza toma minhas entranhas. Desespero. Algo macio percorre meu rosto. – Você é bom! Uma frase. Bom? Não consigo me mexer. Não consigo entender. Os dedos dos pés se movem. Os dedos das mãos se movem. Viva! Formas, formas. Uma mulher? Uma mulher! Indo embora. Calma ae, não vá! – Tenho que ir, amanhã acordo cedo, foi muito especial hoje, te amo, tchau! Ainda não entendo. Movo para esquerda. Consigo. Minha perna se move. Coloco os pés no chão frio. Arrepio. Frio. Estou pelado? Por que? Caminho. Reconheço móveis. Reconheço cômodos. Banheiro. Torneira e pia. Água fria. Rosto ensopado. Mente no tranco. Eu transei e gozei. Com a mulher da minha vida...

terça-feira, 13 de maio de 2008

Cancioneiros


Diante de bons motivos para apalpar sua carne
Me deparo com pele mórbida, porém oleosa
A morte que dá tanto tesão
A vida dos desamores perdidos na atração
E na sua tentativa desesperada de espairecer
Eu como pára-raios esperando tudo acontecer
E tudo vira piada
Construída na tábua rasa
E no final eu vou pra casa
Ficar com o travesseiro sozinho
Já tenho um imenso ninho
Com sentimentos alheios
E uma gaiola de ferro
Só com desesperos
E um número para ligar
Quando eu enjoar dos erros
E depois de analisar
Vivenciar
Experimentar
E até mesmo
Uivar
Essa é boa
Só me resta cantar a canção
Canção do lugar-comum do coração

sábado, 3 de maio de 2008

10 Poemas para alguém gostar de mim.




I

Hoje acordei com vontade de escutar aquela música
Aquela mesmo que te mostrei outro dia
E você não de nenhuma importância
Ingrata
Se eu acreditasse que nessa vida tudo passa
Eu te daria um foda-se
Mas porra
Sua presença ainda me incomoda
Assim como a Tv ligada ainda me incomoda
Vou apagar seu número do meu celular
A sua foto vou rasgar
Vou fazer a barba e conseguir alguém diferente
Para transar...

II

Tá gelado
E eu tomando um vinho
Fico bêbado
Enjôo
E vomito a casa toda
Deito no chão
E imagino uma mulher nua
Bato uma punheta
E a lágrima sai dos meus olhos
Durmo
E quando acordo
Tenho que limpar a sujeira
Só derrota
Preciso de alguém do meu lado.


III

Ando com prisão de ventre
E ninguém gosta de mim
Ando comendo mal
Mas nem sempre foi assim
O óbvio seria uma mulher para cozinhar pra mim
Mas aí eu seria machista
Pois cozinhar eu mesmo poderia fazer
Aí que tá
Ter prisão de ventre
Comer mal
E não saber cozinhar
É suficiente para conquistar mulher?
Talvez seja
Mas hoje prefiro
Resolver meus problemas imediatos
É mais fácil.


IV

Depois de ter marcado com ela
Mais uma vez
E ela ter furado
Como sempre
Eu me pergunto
Com quantas objeções
Eu deveria tomar vergonha na cara?
Já poderia ter partido pra outra
A bastante tempo
Resolvo sentar e contemplar
O rebolar
O caminhar
O beijar
Daquelas várias mulheres que estão bem ali
E eu arranjando uma estratégia para conquistar alguém
Putz
Tenho que para de ficar me lamentando
Essas porras não gostam de coitados.


V

Hoje eu acordei com uma imensa vontade
De dar uma foda.
Sexo para ter sentido
Tem que ser com carinho
Hoje o amor deve ter algum sentido
Mas eu quero mesmo é foder
Até as pernas bambearem
O discurso tem que ser mais coerente
Um bom sorriso para mostrar os dentes
Um agrado
Um afago
E um dinheiro para ir pro motel
Tem que parar pensar só em sexo
E tentar gostar de alguém de verdade
Só que hoje o que é verdade
É meu pau duro
E a vontade de foder
Ae, assim você não conquista ninguém.

VI
Ofereço o café
Pois estou com azia
Você não aceita
Diz que está sem açúcar
Diz que sou sem graça
Diz que não quer mais nada
Maldita azia
Vou a farmácia comprar um comprimido
E quando volto
Você já tinha ido embora
Pego o café e jogo fora
E meu sentimento brinco já não é de agora
O problema é esperar a campainha novamente tocar
E eu ficar enjoado de esperar


VII

Que merda de cigarro fedorento
E eu só agüento
Porque é você
Porra, não era para ser assim
Eu não suporto cigarro
Mas ainda suporto você assim
E aí
Quando irá mudar?
Quando vai arranjar um jeito para compensar?
Já não basta nosso sexo intenso?
Já não bastam carinhos, afagos e lamentos?
Já não basta?
Já não basta?
Apaga logo esse cigarro
Vai
Eu deixo você dar a última tragada
Não, não me deixa sem graça
Tava na cara que ia embora
Pois eu não mando em ninguém


VIII

Diante de bons motivos
De boas razões
De boas lições
De boas coisas
Para alguém ficar comigo
O que eu posso dizer?
Você
Conhecer
Perecer
Permanecer
Estático
Diante de tantos bons motivos
Ainda me preocupo
Se um dia ficarei sozinho
Talvez a preocupação seja a maneira
De achar que os bons motivos
Não sejam
Não sejam
Algo tão verdadeiro assim
Deixa os bons de lado
E ao menos tente
Tente me conhecer.


IX


Chego cansado do trabalho
E procuro a cama
Não existe cara feia
Pois moro sozinho
Tiro um cochilo
Mas preciso acordar para esquentar o jantar
Ninguém reclama
Eu moro sozinho
Comida insossa
Tv sem graça
E ninguém sente falta
Todo mundo sabe que o moro sozinho
Até gosto do ambiente
Dá para escutar meu eco
E o som da casa
Contrasta com minha solidão
Sem telefone
Sem campainha
Mas com muito sono
Então vou dormir
Pois moro sozinho
E ninguém irá me perturbar.


X


Gemidos furtivos
Que eu roubei de você
Líquidos escondidos
Que eu fiz você despejar
E lamber
Vi você crescer
Fiz você sentar
E de quatro eu pedi para você olhar
Quantos tapas
Quantas disputas
Quantos rachas
E despertávamos nus debaixo da escada
E o quarto trancado e o som alto
Para abafar seus xingamentos
Ninguém pode saber
Que você fala palavrão
E derrepente tudo acaba
E eu pensando que eu me esforcei
Te perguntei onde eu errei
E você voltou para a sua negação
Já tive tantos motivos para alguém gostar de mim
E tudo acaba terminando assim
Assim como?
Nada a declarar.

terça-feira, 29 de abril de 2008

O mundo dos restos.


Não gosto de juntar restos de comida. O nojo é o lugar comum quando se trata de restos. Mas tenho que juntar e limpar para depois sair e trabalhar. Hoje não. Hoje vou para a praia. Uma falta a mais ou a menos e vou continuar ganhando uma merreca. Vou para a praia pelo caminho habitual e sou surpreendido por uma mulher: - Tá indo para a praia? – Tô. – Posso ir contigo? – Pode sim. Observo-a. Bonita. Pretinha. Seios médios. Bunda empinada. Eh, descrição de conto erótico. Com exceção da “pretinha”. Pergunta se eu moro por aqui. – Sim, eu moro. – Mas hoje é quinta feira, deveria estar trabalhando. – Ó, você também. Ela ri. A descontração favorece a caminhada. – Trabalha em quê? – Sou educador e você? – Sou psiquiatra. – É? – É, por que o espanto? – Força do estereótipo. – É, tinha percebido, meu corpo dá essa impressão, né. Papo estranho. Ser provocado pela manhã não faz muito sentido. Gostei dela mesmo assim. E assim caminhamos em direção à praia. Ela pergunta qual é a minha motivação em ser educador. – Concurso Público. Eu pergunto qual é a motivação dela em ser psiquiatra. – Saber a motivação dos outros. - E o que concluiu? – Que a praia é muito bonita. Resposta evasiva. Talvez ela esteja me testando. Quer ver se eu sou inteligente. Não estou a fim de perguntar mais nada. Vamos pra praia. Vamos pra praia. Ela quer caminhar. Eu quero contemplar o mar. – Está cansado da rotina, né? – É, estou. – Quebrei sua expectativa? – Expectativa? – Você gostou do meu corpo e eu tentei mostrar que sou mais do que um corpo bonito, e você não gostou. – Você tem sempre certeza dos seus diagnósticos? – Talvez. – Ah, tá bom, quer sentar? – Quero. Ela me explica sobre os movimentos constantes das ondas e a tentativa de adequação da psiquê para ser similar às ondas. Ela também me explica que gosta de provocar os homens a partir da imagem comum da mulher negra e que a quebra de expectativa gera frustração, afastamento ou paixão avassaladora. – E o meio-termo, não cogita? – Bom, a provocação é para os extremos. E então, ela me mostra o seio esquerdo. Fico abismado. Fico excitado e isso fica perceptível. Seio médio, durinho, redondinho, um tesão, ummmmmmmmmmmmmmmm. – Tá vendo, sua excitação é visível pelo aumento de sua saliva e pelo óbvio enrijecimento do pênis, facilmente perceptível, mas o que eu queria te mostrar era realmente meu seio? – É, parece que sim. – Aí que você que se engana, lado esquerdo do peito, é o coração! – Porra, que provocação é essa, não tem medo de eu te agarrar aqui? A praia está deserta. – Não se esqueça que sou psiquiatra e entendo de comportamento humano, com certeza você não vai me agarrar. – E se você estiver equivocada? – Aí já era. Fico sem ação. Ela tem razão. Chutar o balde com certeza passa pela minha cabeça, mas não incluiria estuprar mulheres. E ainda mais mulheres negras. Agora ela vai caminhar. Eu continuo sentado imaginando a situação que beirou o absurdo. É negão, talvez não. Talvez você aprenda algo sobre continuidades.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Na medida do caos...





O que estamos esperando, hein? Que os homens e mulheres inteligentes resolvam o problema de maneira simples e civilizada. Mesa de bar é foda, pois assuntos de ordem mundial surgem com a facilidade de uma golada na cerveja mais barata. Nem é tão barata assim. Simples e civilizador. A proposta de civilização sempre caminhou com a prática de extermínio. É? A bebida é um processo de extermínio. Minando o corpo. Assim com o sexo. Sexo? Pára, pára. O sexo não mina ninguém. Fica 12 horas trepando direto, então. Porra, 12 horas? O contexto etílico dissolve toda e qualquer tentativa de construção de conhecimento. Vem cá, ultimamente você anda muito formal, não consegue mais atingir a sua classe de origem. Classe de origem? É aquela que nos remete a nossa infância. As coisas evoluem. Evolução não é esquecimento. Evolução não é esquecimento. Vou me lembrar disso quando não me reconhecer no espelho. Meus pensamentos estão fragmentados, assim como o papo reto que já fez curva a bastante tempo. Assim como minha cor de pele ainda é motivo de desconfiança por parte das mulheres que tento conquistar. Assim como... ah, sei lá, tenho que buscar algum objetivo nisso tudo. Acorda, acorda rapá! O que, o que? É hoje! É hoje o quê? É hoje que vamos tirar a barriga da miséria. E como vamos fazer isso? Fazendo aquela correria básica. E se a gente for preso, irmão? E se a gente conseguir fazer a correria irmão? Tá vendo. Se não houver riscos, já era o bagulho!

O caos talvez seja a melhor garantia de que as coisas realmente mudem. O fio da meada pode garantir a decisão que há muito tempo pensamos em tomar. É o pensamento que está caótico e não traz nada de novo ao contexto e é a ausência do novo que talvez cause a confusão que te faz pular da cama e chutar o balde. Apesar que a proposta de chutar o balde é para no máximo conseguir uma fratura no pé, porque o balde com certeza vai estar cheio de cimento. Ai! Você pensa e acredita no que quiser. Eu assumo o personagem que desejar. Isto é ruim cara! Isto é ruim. Parece que não tem personalidade. Eh, pareço? É, parece! Ser alguém com personalidade ou ser alguém sem personalidade, eis a questão! Não liga para que esse doido diz, não... Você come gente pra caralho desse jeito! Olha só o canibal.

Estou sentado escrevendo e a observo. Melhor. Observo seu tênis desamarrado. Ela também percebe e desce para amarrá-lo. Tenho que parar de observar essas coisas. Elas acabam ficando sem importância no ambiente. Tá tudo muito estranho e qualquer tentativa de explicação transforma tudo em uma grande merda. Tá certo que todo esse emaranhado só tem um objetivo. Pelo menos é objetivo que quero alcançar. É todo caos que tiramos a força necessária para se mudar. E precisa-se mudar algo. Na verdade, os desejos reprimidos quando liberados são o contexto de provocação do caos reinante dentro da psique dele ou dela, sei lá. Provocações constantes, confissões que não têm nada de comum. O quebra-cabeça se for montado pode provocar a revolução. Pode.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Conflitos (Internos ou Externos?).


Talvez tenhamos mais chance de confrontar o sistema juntos. É, juntos. Eu gostaria de ter boa memória e lembrar das causas de sua desconfiança perante o sistema, mas talvez analisar a sua desconfiança remete a analisar a mim mesmo. E me auto-analisar talvez não seja o melhor remédio no momento em que no preparamos para o embate.
O conflito está nos seu auge e qualquer tentativa por mais ínfima que seja, se torna a força propulsora para a destruição em massa. Talvez o momento seja o mais propício para os nossos anseios. Só que suposições não resolvem muita coisa. Na época em que queria ter um planejamento de vida casual, preocupado não com o que a vida não poderia oferecer, mas com o que poderia ser, a suposição, o talvez, tinha seu lugar garantido. Hoje estou com a arma engatilhada, esperando o momento para explodir a cabeça do alvo determinado.
Pois bem, o cenário é de guerra. Estamos lutando para tomar o poder constituído. Somos 6 pessoas. 3 homens, 3 mulheres. Acreditamos que o sistema precisa de uma mudança de pensamento. Então criamos toda uma rede de informação que incluía panfletos, internet e por aí vai. Os adeptos assim como o desleixo do sistema com nossa causa, foram primordiais para o estado atual de guerra. Avaliar se a guerra é o melhor momento de confrontação é perda de tempo. Só sei que nos reuníamos em um local teoricamente secreto para traçar a estratégia derradeira e ocupar o Palácio dos Poderes. Resolvemos assumir a dianteira do combate para entrar no Palácio pela porta da frente, demonstrando para todos que o sistema realmente caiu. Na guerra qual é a melhor estratégia? Boa pergunta, boa pergunta...
A trincheira do sistema é cruel como deveria ser assim como o sol é quente como deve ser. Só que a força de mudança atravessa qualquer crueldade e invadimos o Palácio dos Poderes pela porta da frente com combinado. Cabe a eu dar o tiro na cabeça do mantenedor do sistema. Filmamos e repetimos o ato constantemente em cadeia nacional. O novo regime é acompanhado com mudanças profundas nas bases sustentadoras da sociedade. Profundas modificações que se tornam naturais na medida em que as aceitações dos novos métodos se tornam constantes. Onde vamos parar? Outra boa pergunta, outra boa pergunta...
Os cabelos caem na medida em que se percebe que as mudanças profundas se tornaram sistema. E que existe uma movimentação para que ocorra a guerra. A sofisticação dos requintes de crueldade é a chave para se permanecer no poder e fazer o que é certo. Tivemos tempo para sedimentar os nossos propósitos para que as novas gerações usufruam de maneira plena o sistema. Somos convocados para explodir umas cabeças. Triunfamos mais uma vez.
O mundo é e sempre será opressivo. Nossas pulsões arquetípicas sempre serão deixadas de lado para se chegar o ideal. Os discursos se deslocam e os atos sempre serão justificáveis. Temos certeza disso, só não temos a coragem de admitir, pois toda a adesão se desmorona. Talvez não tivéssemos a coragem de fazer o que deveria ser feito. Só que seria a radicalidade. Só a radicalidade resolve a guerra. Precisamos estabelecer códigos diferentes do estabelecido se quisermos que a mudança realmente aconteça. Senão, o que é profundo, depois de um tempo é apenas sistema. Reflexões são importantes ainda mais no leito de morte. E o que seria a radicalidade? Ah, para nós triunfarmos não é uma boa pergunta...

terça-feira, 25 de março de 2008

Encontros Normais – Parte final


Apontando o dedo na cara do senhor que a barrou na porta do saguão aonde ela deveria estar proferindo a palestra, ela mostra toda a imponência de anos de estudo dedicados e trabalho árduo. O senhor fica acuado perante a argumentação autoritária, mas não cede a pressão e não a deixa passar, pois está cumprindo o que a sua função lhe impõe. Ela fica sem paciência e usa o celular. Engraçado, a minha observação é simplesmente um fetiche, pois que deveria fazer o papel de interventor seria eu, tanto que a ligação que ela faz é exatamente para mim. Não atendo. Limito-me a aproximação e com um gesto o senhor a deixa passar. Ela pra mim, sorri amarelo e segue em direção ao local no qual está sendo aguardada. No caminho ela não dirige a palavra. Em outras épocas ficaria sentido com a atitude. Hoje sou apenas o coordenador de um evento cuja fala dela é mais aguardada desde quando começou o evento. Realmente um lugar de prestígio. E ainda mais na atual conjuntura com a valorização de idéias vinda de pessoas como ela. Ela está pronta para iniciar a palestra. O meu papel é anunciá-la. Conto para a platéia toda a sua trajetória e seu currículo respeitável. Ela toma a palavra e eu me limito a sentar na primeira cadeira. O domínio do conteúdo realmente impressiona. Olho a platéia e os olhos atentos são mais impressionantes. Ela me olha poucas vezes, mantendo o ar de formalidade como se tudo fosse sempre assim. Passados o tempo previsto, perguntas respondidas e aplausos merecidos, acompanho-a até a sala de estar para alimentação e um relaxamento de idéias. Durante o caminho arrisco dizer um parabéns e ela agradece. Na sala de estar ela senta e delicadamente toma uma xícara de chá. Ela é bela e preta. Bela mulher preta. Nunca poderia esquecer as nuances de seu rosto e sua bela boca carnuda. Nunca poderia esquecer as noites de sexo e discussões sobre os contos de Alice Walker. Nunca poderia esquecer os choros e os momentos depressivos nos quais escrevia poemas para alegrá-la. Nunca esqueci e nunca entendi o porquê dela ter me ignorado. Nunca me deu explicações plausíveis. Um nada a declarar foi a frase derradeira. Como eu a amei. Quantas expectativas criei com relação a nossa relação. Ela me olha atentamente. Diz que continuo fofo. Diz que continuando falando pouco. Diz que sou um filha da puta por não ter intervindo há mais tempo quando ela estava no embate com o senhor na porta do saguão. Eu sorrio. Ela tinha me percebido. Ela me diz não perdi meu ar sarcástico. Rimos com antes. Rimos juntos como antes. Ela me pergunta se ainda pluralizo as mulheres pretas. Eu digo que não pluralizo mais as mulheres pretas desde que me apaixonei por uma. Ela fica sem graça e diz que precisa atender as pessoas. As pessoas são importantes para o trabalho dela. Ela vai atendê-las e tomo um gole de café, pois não curto chá. Saio sem ser percebido e peço para ocuparem meu lugar enquanto vou resolver uns assuntos. Não sei se ela sentirá a minha falta e também não importa. Foi bom vê-la. Foi bom senti-la aparentemente bem, mas também é bom eu me preservar. A construção dos valores se pauta em tentarmos ser sempre melhores depois de cada momento frustrante. Não tenho mais nada para oferecê-la e nem ela tem mais nada para oferecer para mim. Isso é fato!

segunda-feira, 17 de março de 2008

Encontros Normais Parte II


“Vai embora, vai embora”. Você não sabe o quanto de nocivo é ouvir esta afirmativa, ainda mais quando pensamos que tudo está no controle.

Sentado numa pedra na beira do mar tentando pescar. Pescar nunca foi um dos meus fortes. Talvez a inveja de ter alguém próximo que pesca tão bem, e na beira do mar sempre tem alguém melhor. Pois bem, já estava meio puto por não ter conseguido pegar nenhum peixe e chega ao meu lado uma bela mulher. Na verdade ela já estava ali faz tempo. Só que a percebi depois do meu total fracasso na pescaria. O fato de observar a mulher bonita é um gancho para uma história de paixão avassaladora. Porra nenhuma. Só me limitei a observar mesmo e pelo que eu me lembre, nuca mais a vi. Tá bom, a narrativa caminha para alguns dias depois da pescaria. Estava assistindo uma palestra sobre a questão do empobrecimento e suas nuances. Interesse-me pelo empobrecimento sexual e suas particularidades travestidas na necessidade do mercado. Senti-me um pouco acuado pelo momento no qual passo e senti uma enorme vontade de me declarar para a bela mulher preta sentada na primeira fileira. Vontade e prática deveriam ser indissociáveis, mas não o são. O momento agora é a fila do banco. Uma fila dispersa, pois funciona por senhas. Pessoas sentadas esperando a vez de transferir sua renda para o lucro anual dos banqueiros. Observo uma bela mulher preta chegando, aparentando uma estafa de estar andando por aí pagando contas. Chega ao meu número. Sou atendido e vazo dali. Odeio bancos. O que deveria estar em jogo é na verdade a minha capacidade de observação. Porcaria. Eu e minha mania de grandeza. Estou em casa dormindo. O som alto é a barreira necessária para não mais aceitar a interferência externa. Realmente eu gosto muito de dormir. Sinto-me em momento nos quais poucos seres serão capazes de perturbar minha essência. A porta do quarto ressoa um barulho que contrasta com a música. Fico em alerta. O barulho ressoa. Abro a porta. Uma bela mulher preta. Como eu estava dormindo, a bela mulher preta deve ser alguma daquelas que observei e que me inconsciente traz para me confortar. Só que não é um sonho. A bela mulher preta tem nome e veio conversar. Disso que está em casa agoniada e precisava conversar com alguém. Legal, pode falar. Então ela começa. Diz que se sente incompreendida, que tem um ímpeto revolucionário, que prefere ficar na dela, que é extremamente talentosa e por ai vai. Penso: é bonita e gostosa também. Diz que sou muito compreensivo e não abre mão de mim. Começo a acreditar que ela realmente gosta de mim. Tento beija-la e ela diz para dar tempo ao tempo. Dar tempo ao tempo. Ela se despede. E eu volto me deitar. As relações acabam assumindo um caráter de dependência quando descubro que ela tem encontros constantes com um velho amigo. Fico encucado e começo a perceber o quão efêmero são os momentos em que vivi até hoje. Chamo-a para um encontro e depois de uma discussão extensa e acalorada, ouço a frase lá no começo da narrativa: “vai embora, vai embora”. Sinceramente não estava com as fortalezas psíquicas bem construídas e fiquei totalmente sem rumo. Também percebi as bases inúteis em que andei construindo meus conceitos durante um bom tempo. É, o que fazer quando a certeza escapa de nossas mãos assim tão facilmente? Os escapismos e as crises existenciais que permearam todo o meu discurso se condensam em amenidades quando resolvo encara a situação de forma coesa e satisfatória. Olha lá, os dois estão firmes juntos. Realmente, hoje o que me importa é desconstruir as relações...

segunda-feira, 10 de março de 2008

Encontros Normais




Ela morde os lábios toda vez que a excito com palavras. Filho da puta. É aquela preta que eu observo a bastante tempo, esperando a oportunidade para destilar o veneno. Ela me olhava desconfiada e nem chegava perto.

Bocejos, bocejos e bocejos. Estou com sono, sentado na cadeira de um ônibus semi-lotado. Geralmente sento em um lugar estratégico, nas cadeiras altas e observo as pessoas adentrarem no veículo, mas o dia não é um dos melhores e opto pelo cochilo. Tem dias que os movimentos oníricos são bem aceitos devido ao dia estafante e estou aceitando os movimentos com certa facilidade, porém sou cutucado. Não dorme não. Não gosto de demonstrar que estou assustado, então só abro os olhos e é a preta do meu lado. Esboço um sorriso e me recomponho. Ela morde os lábios.

Estou em um banco da praça conversando com a preta sobre vários assuntos. Interessante a exposição das nuances. A maneira como se é abordada o contexto abre espaço para sacanagens e insinuações. Observo o vestido florido dela e pergunto quando colherei aquela flor. – Flor ou flores? – O que você permitir. Tá certo, penso comigo e escuto todos os sons que o corpo dela pode produzir. Nem todos, vai. Ela mordeu os lábios inúmeras vezes.

Gostaria de elaborar um tratado sobre o que é transar com uma mulher preta/ só que todo e qualquer tratado sobre transar com uma mulher preta poderia soar com exótico, estereotipado, preconceituoso e até mesmo machista. Só que eu me amarro nas mulheres pretas. No momento estou vidrado em uma. Ouço suas reclamações, introduzo provocações e nos propomos reflexões. Tá, isso é tudo? Nem é, pois nem transamos ainda. Ela se propõe a ter estratégias de evasão que nem são eficientes, mas o papel de displicente me cabe quando quero observar o limite do comportamento alheio. As mordidas do lábio são mais comuns do eu imaginava. Nem vale a pena ficar comentando. Está evidente.

A preta senta no meu colo e a beijo. Lábios suaves, suaves. A descrição de um momento sexual é tão excitante quanto banal. De a preta engolir o meu pau até as bolas ou gozar diante de uma penetração intensa e constante. É, suamos para dar algumas gozadas e depois ficamos abraçadinhos tentando descrever todo o caminho que nos levou a aquele momento. Putz, que banalidade. Todo um esforço de pensamento para acontecer o ato inúmeras e inúmeras vezes. – Vem cá pretinha, não vão correr de mim. – Correr de quem? Eu te encaro com gosto.

Preparo o café na cafeteira elétrica e ela me observa. Observação tola, mas mesmo assim ela me observa. Pergunto o porquê dela me olhar com tanta persistência e a preta diz que é apenas conveniência. Conveniência? Eu sorrio e dou um copo de café para ela. Sento em frente a ela e explico todo um projeto de vida no qual penso faz um tempinho. Ele diz que me admira. Grande coisa. Ela diz que me admira. Grande coisa. Ela diz que me admira. Repetitivo isso. Ficamos planejando até o entardecer, depois saímos para comprar açaí. E depois? E depois? E depois foi um sexo gostoso.

Caramba, já se passou tanto tempo e estamos praticamente olhando sobre as mesmas perspectivas. A nossa imaginação é guiada diante de momentos profundos de interação. As coisas vão se descortinando em períodos não cíclicos cuja obra não se restringe a mera resenha crítica. Porcaria de coisa complexa. Totalmente sem sentido essa merda. – preta, pega o casaco, hoje vai fazer um brio. – Você me esquenta? – Esquento, mas pega o casaco. – Tá bom. Ela mordeu os lábios quando percebeu que depois de tanto tempo eu ainda me preocupava com ela. Talvez seja esse o grande lance. Só ficaremos nos talvez. – Filho da puta.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Discurso Anti - Popular


Um Zunido invade a minha cabeça. Abro os olhos. A cachorra lambe o meu rosto. Puta merda, ela não come a 3 dias. Colchão no chão, me descubro do lençol velho. Vou ao banheiro lavar o rosto.- Negão, oh negão, negão. – Entra aí camarada. Um colchão, um lençol, um fogão, uma geladeira e uma mesa. Um quarto, um banheiro, uma cozinha e uma sala. Poeira, tijolos quebrados e um grafite na parede da sala. – Koé negão, tem unzinho pra nois aí não? – Porra, não tem nem gás e geladeira não tem porra nenhuma. – Calma negão, você sempre tem um unzinho. – He, e você, me emprestam um real? – Um real? Só isso? – Se você tiver mais de um, eu agradeço. – Po, vim te chamar para um serviço. – Ó, só se for agora.saio com uma bermuda e camisa vermelha. Uma corrente e um cadeado para fechar a porta. Chego à rua. Umas esquinas depois chegamos num ponto de ônibus. A barriga ronca. Ronca para caralho. Uma cena periférica. Uma escada de muleques pretos. 8, 7, 6, 5 anos aparentemente. Todos passando de camelo. Chegam perto da esquina e um carro freia bruscamente. As crianças caem na rua. O ponto de ônibus está lotado. – Presta atenção filha da puta. – Comprou a carteira porra. – Se atropelasse as crianças tava fudido. Palavras soltas. Euforia. O motorista sai do carro e tenta dar um pescoção no garoto. Um cara vem correndo e dá uma voadora no motorista. Confusão. À 200 metros do ponto tem uma delegacia. Chega uma viatura. Tentativa de dispersar o movimento com o uso de cacetetes. – Porcos de merda. Alguém vem correndo e joga um paralelepípedo no pára-brisa da viatura. – Que foda! Deu arrepio. O povo tá com ódio. Os policiais entram na viatura e tentam ira trás desse alguém. O meu camarada vai de encontro aos muleques e puxa 5 conto. Eles se ajeitam meio que assustados, pegam o dinheiro e continuam a pedalada. – Porra, t com dinheiro e eu cheio de fome, paga um lanche caralho. – Calma negão, tem coisa melhor esperando a gente. – Coisa melhor? Porra, a fome tá foda. – Calma, relaxa... O ônibus chega. Sento na cadeira. Fecho os olhos, zunido. Recebo uma cutucada. Abro os olhos. Barulho de motor. Odeio receber cutucada. – Vambora negão. Centro da ciaded. Prédios, pastelarias, restaurantes. Um correio. Foda-se o correio. Caminhamos, caminhamos, caminhamos e chegamos num prédio com cara de prédio. Um elevador. 4º. Andar. 402. O camarada toca a campainha. Um branco abre a porá. Uma sala com uns sofás confortantes, uma mesa de vidro com uns doces, salgados, biscoitos, uma garrafa térmica com café, jarros de suco. Invado. O branco pede para a gente esperar. O branco some da sala e eu comendo pra caralho. Vinte minutos se passam. Os sofás realmente são confortáveis. Um branco de terno e gravata entra na sala. Roupa do opressor. Fazemos uns serviços. Somos dois pretos mal encarados e servimos para uma coisa: intimidar. A gente intimida devedores. O branco fala, fala, fala. O de terno e gravata acena com a cabeça. Nem me preocupo comas palavras dos brancos. Tento me concentrar no serviço. Matei a minha fome. Saímos do apartamento. Entramos no carro do branco e fomos para a casa do devedor. – Negão, preparado? O meu camarada sempre pergunta isso. Ah caralho, tudo passa muito rápido. Porra, porra, porra. Só xingando muito nessa merda. Voltando: - Preparado parceiro. A casa do devedor é bem arrumada. O carro pára. Descemos. Arrombamos o portão. Os cachorros latem. Batemos na porta. A casa é ornamentada com um muro e portão estilo americano. As paredes externas são brancas. Pureza. Não importa, o cara deve. Tristeza. Estamos num filme de ação. Um barulho na porta. Tiro de doze milímetros. Meu camarada voa. Caralho. Eu corro em volta da casa. Quem é esse cara? O nosso mal é não perguntar quem são os devedores. Olho para a rua. O carro não está mais lá. Caralho. Uma janela aberta. Entro. Entro, caio desajeitado sem saber onde estou. Quando olho e quando sinto, a doze está colada no meu corpo. – Calma irmão, vamo conversar. – Conversar? Por que vocês arrombaram meu portão? – Calma rapá, você já meu camarada, tá na merda, me matar não vai adiantar nada. – É negão, tá na tremendo na base filho da puta, quem te mandou aqui? Quem te mandou aqui porra? Quem te mandou? Quem te mandou? O frito foi tão alto que doeu meu ouvidos. Lágrimas saem dos meus olhos. – Chorando negão? A frase do cara me deixa puto. Dou um tapa na arma. Tiro no alto. Parede do teto arrombado. Destroços nem caem direito e eu corro. Corro. Corro. Um barulho. Outro barulho. Eu corro. Caio. Dor, medo. Olhos abertos, barulho de carros. Latidos. Fecho os olhos. Zunido. – De quem são os corpos? – Dois pretos que tavam a fim de me assaltar. – É, esses merdas são foda mesmo. – A viatura lá do distrito levou uma pedrada. Coisa de doido. – Não foram esses dois não? – hehehehehehehehehehehe. Abro os olhos. Não vejo porra nenhuma...

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Asperezas e Bonitezas


Uma época difícil se aproxima. Com apenas uns trocados no bolso, meia dúzia de peças de roupa e um nome comum. O que será de mim? Olho meu rosto no espelho e percebo que tenho que fazer a barba para procurar um emprego. Só uma coisa, se eu comprar um barbeador descartável, ficarei um dia sem jantar. Que merda! Me preparo para sair do quarto e banheiro em que moro para pensar numa maneira de sobreviver e deparo com o dono do muquifo pedindo o aluguel atrasado de 3 meses. Quanto estresse! Olho e escuto seu maxilar produzir alguns efeitos sonoros pejorativos. Tento entender uma coisa, é o maxilar que produz o som? Não importa, até porque em breve serei despejado. Ah, depois do falatório o dono me entrega um envelope contendo uma mensagem. Um serviço! Esqueci de mencionar, mas de vez em quando faço uns serviços. Procuro pessoas. Pensaram que eu sempre vivi na pindaíba? Eu sempre vivi na pindaíba! No envelope também tem uma foto. Uma mulher bonita. Por quê? Ela desapareceu. Mulheres bonitas são objetos de fetiche para homens ferrados. Nunca as teremos por isso nos masturbamos bastante é isso acaba sendo nossa única fonte de prazer. Nem sei por onde começar. Aliás, sei sim, só estou dando um clima. Tem um caminho na cidade em que as pessoas são praticamente obrigadas a transitar. Como se o caminho fosse sagrado para todas as religiões possíveis e imagináveis. E no alto de um prédio que compõe esse caminho, existe um velho observador. Como um binóculo ela sabe quem passou por ali ou não. Bizarro? Sargento Malaquias é o nome da figura. Por que o velho observa/ já tentei deduzir, porém achei que é perda de tempo. Estou no topo do prédio e o Sargento Malaquias está sentado na cadeira com o binóculo, observando os transeuntes e anotando cada coordenada no seu caderninho de capa verde. Mostro a foto para ele. Velho desgraçado. Coça o saco e aponta para a direção da Casa da Boa Esperança. Pergunto como sabe que ela foi para lá. Ele diz que mulheres bonitas desesperançosas buscam valorização em lugares exóticos, por isso ela só pode ter ido para lá. Isso é dedução, indaguei. O velho olha para a minha cara, aponta para o caderno e diz – Eu tenho mais de 100 cadernos desses anotados. Nunca deduzo nada, tenho certeza do que eu falo meu caro!!!!!!!! Anotações são deduções com aspecto de verdade, penso. Resolvo ir para a Casa da Boa Esperança. A casa é o lugar dos proxenetas e dos vendedores de fantasias. Putz, pena estar com pouco dinheiro. Lá chegando mostro a fato para uma vendedora de plantão. Ela ri, pois não esperava alguém procurar logo essa mulher. Ué, por quê? A vendedora diz que a mulher procurada achou que as mulheres da Casa da Boa Esperança vendem o corpo delas. Ledo engano. Quem vende o corpo, está morto. Nós vendemos fantasias. Pergunto onde a moça da foto está. A vendedora diz que ela não agüentou e foi embora. Porra, foi embora. Agora fala sério, já viu puta filósofa? O mundo é doidão mesmo. Caminho sem rumo com a barriga roncando e pensando numa forma de achar essa porra de mulher bonita. Diazinho maçante. Sento num banco de frente a um rio onde pessoas circulam felizes com a anestesiação do mundo. Uma pessoa senta ao meu lado. Uma mulher para ser mais exato. Continuo olhando para o rio. Tô com fome. A mulher pede um cigarro. Olho para ela. Olha só, é a mulher da foto na minha frente. É sacanagem, obviedade, seja o que for, mas ela está na minha frente. Pergunto para ela o porquê dela ter desaparecido. Ela olha e pergunta se estou com fome. Claro que estou. Ela me chama para fazer um lanche. Comendo o lanche os dizeres dela me comovem. “Ser bonita talvez seja o maior desejo de uma mulher. Portas se abrem, as coisas acontecem, os homens te desejam. O sentimento de felicidade que você imprime nas pessoas é incrível. O complicado é saber que a beleza é a prisão disfarçada de perfeição. Temos que ter gestos programados, falas específicas, roupas escolhidas e sorrisos armados. Depois de um tempo só fazemos isso e a vida fica sem sentido. Parece que flutuamos em um mundo sem nenhuma expectativa esperando alguém apontar o dedo, se excitar ou te proteger. No final percebemos que não vivemos porcaria nenhuma, servimos apenas de vedete para realização de fantaisas alheias.” Realmente fiquei comovido com lucidez dela, fiquei mesmo. Eu sou um fudido e ela é uma mulher bonita. O que temos em comum? Porra nenhuma! Explico a situação no qual fui submetido. Ela resolve voltar para onde veio. Eu recebo meu ordenado. Volto para a quitinete com algumas compras e o dinheiro do aluguel. Sento na cadeira localizada no meio do quarto, fecho os olhos e me imagino beijando a mulher bonita. Durmo na cadeira.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Mensagem de Texto


- Tô Fora cumpadi, muito complicada – Complicada por que rapa – Ela gosta de gozar, mas não quer comprometimento – Ela ta certa então – Pô cara, o comprometimento que eu falo é a penetração – Aí fica difícil. – Ae, de 9 e meia da noite até 3 da manhã cupando aquela porra e ela não me deixou meter. – Pô camarada, ela ta cheio de onda – Cheio de onda? – É rapa, tá falando que tô agradando ela demais – he, he, he, he, he, he, he – Mó gostosa ein – É né, só que é sujeira – Sujeira? É a mesma do caso com o professor tal? – Ela mesmo – Ae, tô fora – Vai lá rapa – Sai fora – Puta merda, ela ta me dando mole – Mole? – Que saúde ein – He – Coloca ela de quatro e enfia até os ovos – Vai lá então – Fala sério, nem chego perto parceiro, meu emprego em primeiro lugar – Olha seu favo de mel – O favo de mel – O favo ta bem amargo agora – Ué, desistiu – Não desisti cara, nem comecei – É... – Linda, peço desculpas pela mensagem, mas tem como imprimir uns arquivos para mim? – Vamo numa festa manhã? – Então linda, qual é a boa? – Até que enfim! – A boa? Nem te conto. Tô me sentindo um lixo. Não tem problema algum, é só cansaço e TPM, vou melhora. – TPM? Você é do tipo que nem pode encostar? Senão a proposta é relaxar! Tá afim? – Não. Sou do tipo que chora por tudo e por nada, penso muito, falo pouco e fico mal humorada, mas consciente. – Então você fica de TPM sempre e eu nem sabia! Pô, nem quero ver! He, he, he – Sempre? É todo final de mês. Ninguém quer me ver assim. Acho que por isso fico triste. Nem mais conto com as amigas. – Calma linda, eu gosto te ver a qualquer hora! Se quiser relaxar estou a sua disposição – Brincadeirinha! O que mais o doutor poderia me indicar além da proposta de relaxar? Suas técnicas são eficazes? – Como você é especial e exigente, a eficácia depende do seu grau de aceitação. E minha indicação é ver um filme agarradinho comendo pipoca para você perceber que alguém se importa contigo. Ah, que tal você também liberar um pouco de suas emoções, ta faltando isso! Gostaria de te oferecer algo para te deixar segura! – Valeu! Nada como uma consulta ao meu guru para mudar meu dia. Queria saber de você. – queria saber de mim? O que? Guru? Só se for tântrico! – Quais emoções? Bem legal a consulta. Parece profissional. Pode me oferecer o que puder e quiser. Fale o que quiser de você. – Falar de mim? Eu tô na necessidade de te confortar e não só com palavras! E você tem que especificar o detalhe que quer de mim. – Não cério que essa seja a sua única necessidade, nem que esteja me acostumando tão mal assim. Depois não reclama. – Mal acostuma ou não, você não ta sabendo aproveitar! Necessidades são múltiplas e precisam ser saciadas, me ajude? – Vou pensar se ajudo e me aproveito de você. Desculpa, mas no momento tô precisando dormir. Daqui a pouco falo com você. – No que posso ajudar/ realmente, também acho que não sei aproveitar. To com preguiça, pode. O que sugere? – Tem algo em você que me fascina, me intriga e me deixa com raiva. Sua trava me incomoda e você não diz porque está assim. Se solta, seja feminina, instintiva, fale, demonstre algo, se liberte. Serei o catalizador. – É! O pior é que isso me incomoda também. Seria ótimo se eu fosse assim, mas é demais para mim, partir para essa etapa! – Vou te levar para cama, você vai suarmuito, vai delira, pegar fogo, gemer, sentir calafrios. Ass. Gripe (ha, ha, ha). Desculpa, eu não queria ter te mandado isso, juro! – He, próximas etapas são complicadas. Como não consigo entender suas motivações, me resta esperar. Devo? – Voltando, não sei o porquê, mas você é um dos poucos seres que me conseguem deixar a vontade. Estamos quase atingindo a plenitude. – É, e é alg que você evita. Esse evitar permite bem menos do que nossas capacidades. Nosso grau de alinhamento vai nos permitir ser mais do que somos. – Não deve ter noção de quanto é difícil para mim. Sugestão? Anestesia geral. Só assim para me envolver sem neurose. – Anestesia para eu te explorar melhor. Um dia a plenitude é nossa. – Relações um pouco parecidas já vivi antes. E o que me restou delas? Alguns momentos legais e muitos de mágoa. – Nada. O que você tá vivendo é diferente. Possibilidade de poesia, de lirismo, de sentirmos algo que valorize nossa vivência. – Lógico que não sou louca de te comparar com os outros homens né? Mas a anestesia anularia a possibilidade de sofrimento – Desliga essa porra ae, tem cerveja e rango aqui. – Calma, já to indo – Sempre achei isso tudo muito etéreo – Ter receios é normal no mundo limitado, mas quês saber? – Me dá isso aqui, pronto, desliguei essa merda. – Obrigado – De nada.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Mais Concreto que o Abstrato!


Reflexões persuasivas levam a algum lugar? Um misto de sentimentos tão complexos como organismos que compõem células nos fazem correr e se esconder; fugir e aparecer; escutar, mas não ouvir; morrer e viver; dizer, mas não falar; mudar... Hermeticamente fechado a chaves duplas e correntes são os sentimentos desta metade, do qual nem mesmo as janelas da alma transparecem verdade. Talvez seja infinito e borbulhante o movimento que proporciona a dúvida. Certeza de que está tão viva como a luz de uma explosão (1. Comoção (1) seguida de detonação e produzida pelo desenvolvimento repentino duma força ou pela expansão súbita de um gás. 2. Detonação, Estouro). Autodestruição pode ser somente uma porta do labirinto. Fuga. Autoajuda. Autoexplicação. Assim como o tato em várias partes, em várias peles, em vários lábios, em vários pensamentos. Tão proposital como a falta de parágrafos são as ações, deixando extravasar (1. Derramar; Fazer Transbordar. 2. Manifestar; Expandir. 3. Sair)... Amor, Dor, Paixão, Terror, Ternura, Compaixão, Alegria, Tristeza, Medo, (In)Segurança, CONFUSÃO, ou trancafiar dentro de um pedaço de carne tornando as águas mais clamas. Quem disse que o melhor porto é seguro? Visto o momento dos fatos nada mais proporciona segurança, nem mesmo o mais concreto do abstrato! Como dizia o tal do Humberto – “Todo mundo é uma ilha”.

25/12/2007

Aproximadamente
04:30!



Incorfomado