quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Asperezas e Bonitezas


Uma época difícil se aproxima. Com apenas uns trocados no bolso, meia dúzia de peças de roupa e um nome comum. O que será de mim? Olho meu rosto no espelho e percebo que tenho que fazer a barba para procurar um emprego. Só uma coisa, se eu comprar um barbeador descartável, ficarei um dia sem jantar. Que merda! Me preparo para sair do quarto e banheiro em que moro para pensar numa maneira de sobreviver e deparo com o dono do muquifo pedindo o aluguel atrasado de 3 meses. Quanto estresse! Olho e escuto seu maxilar produzir alguns efeitos sonoros pejorativos. Tento entender uma coisa, é o maxilar que produz o som? Não importa, até porque em breve serei despejado. Ah, depois do falatório o dono me entrega um envelope contendo uma mensagem. Um serviço! Esqueci de mencionar, mas de vez em quando faço uns serviços. Procuro pessoas. Pensaram que eu sempre vivi na pindaíba? Eu sempre vivi na pindaíba! No envelope também tem uma foto. Uma mulher bonita. Por quê? Ela desapareceu. Mulheres bonitas são objetos de fetiche para homens ferrados. Nunca as teremos por isso nos masturbamos bastante é isso acaba sendo nossa única fonte de prazer. Nem sei por onde começar. Aliás, sei sim, só estou dando um clima. Tem um caminho na cidade em que as pessoas são praticamente obrigadas a transitar. Como se o caminho fosse sagrado para todas as religiões possíveis e imagináveis. E no alto de um prédio que compõe esse caminho, existe um velho observador. Como um binóculo ela sabe quem passou por ali ou não. Bizarro? Sargento Malaquias é o nome da figura. Por que o velho observa/ já tentei deduzir, porém achei que é perda de tempo. Estou no topo do prédio e o Sargento Malaquias está sentado na cadeira com o binóculo, observando os transeuntes e anotando cada coordenada no seu caderninho de capa verde. Mostro a foto para ele. Velho desgraçado. Coça o saco e aponta para a direção da Casa da Boa Esperança. Pergunto como sabe que ela foi para lá. Ele diz que mulheres bonitas desesperançosas buscam valorização em lugares exóticos, por isso ela só pode ter ido para lá. Isso é dedução, indaguei. O velho olha para a minha cara, aponta para o caderno e diz – Eu tenho mais de 100 cadernos desses anotados. Nunca deduzo nada, tenho certeza do que eu falo meu caro!!!!!!!! Anotações são deduções com aspecto de verdade, penso. Resolvo ir para a Casa da Boa Esperança. A casa é o lugar dos proxenetas e dos vendedores de fantasias. Putz, pena estar com pouco dinheiro. Lá chegando mostro a fato para uma vendedora de plantão. Ela ri, pois não esperava alguém procurar logo essa mulher. Ué, por quê? A vendedora diz que a mulher procurada achou que as mulheres da Casa da Boa Esperança vendem o corpo delas. Ledo engano. Quem vende o corpo, está morto. Nós vendemos fantasias. Pergunto onde a moça da foto está. A vendedora diz que ela não agüentou e foi embora. Porra, foi embora. Agora fala sério, já viu puta filósofa? O mundo é doidão mesmo. Caminho sem rumo com a barriga roncando e pensando numa forma de achar essa porra de mulher bonita. Diazinho maçante. Sento num banco de frente a um rio onde pessoas circulam felizes com a anestesiação do mundo. Uma pessoa senta ao meu lado. Uma mulher para ser mais exato. Continuo olhando para o rio. Tô com fome. A mulher pede um cigarro. Olho para ela. Olha só, é a mulher da foto na minha frente. É sacanagem, obviedade, seja o que for, mas ela está na minha frente. Pergunto para ela o porquê dela ter desaparecido. Ela olha e pergunta se estou com fome. Claro que estou. Ela me chama para fazer um lanche. Comendo o lanche os dizeres dela me comovem. “Ser bonita talvez seja o maior desejo de uma mulher. Portas se abrem, as coisas acontecem, os homens te desejam. O sentimento de felicidade que você imprime nas pessoas é incrível. O complicado é saber que a beleza é a prisão disfarçada de perfeição. Temos que ter gestos programados, falas específicas, roupas escolhidas e sorrisos armados. Depois de um tempo só fazemos isso e a vida fica sem sentido. Parece que flutuamos em um mundo sem nenhuma expectativa esperando alguém apontar o dedo, se excitar ou te proteger. No final percebemos que não vivemos porcaria nenhuma, servimos apenas de vedete para realização de fantaisas alheias.” Realmente fiquei comovido com lucidez dela, fiquei mesmo. Eu sou um fudido e ela é uma mulher bonita. O que temos em comum? Porra nenhuma! Explico a situação no qual fui submetido. Ela resolve voltar para onde veio. Eu recebo meu ordenado. Volto para a quitinete com algumas compras e o dinheiro do aluguel. Sento na cadeira localizada no meio do quarto, fecho os olhos e me imagino beijando a mulher bonita. Durmo na cadeira.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Mensagem de Texto


- Tô Fora cumpadi, muito complicada – Complicada por que rapa – Ela gosta de gozar, mas não quer comprometimento – Ela ta certa então – Pô cara, o comprometimento que eu falo é a penetração – Aí fica difícil. – Ae, de 9 e meia da noite até 3 da manhã cupando aquela porra e ela não me deixou meter. – Pô camarada, ela ta cheio de onda – Cheio de onda? – É rapa, tá falando que tô agradando ela demais – he, he, he, he, he, he, he – Mó gostosa ein – É né, só que é sujeira – Sujeira? É a mesma do caso com o professor tal? – Ela mesmo – Ae, tô fora – Vai lá rapa – Sai fora – Puta merda, ela ta me dando mole – Mole? – Que saúde ein – He – Coloca ela de quatro e enfia até os ovos – Vai lá então – Fala sério, nem chego perto parceiro, meu emprego em primeiro lugar – Olha seu favo de mel – O favo de mel – O favo ta bem amargo agora – Ué, desistiu – Não desisti cara, nem comecei – É... – Linda, peço desculpas pela mensagem, mas tem como imprimir uns arquivos para mim? – Vamo numa festa manhã? – Então linda, qual é a boa? – Até que enfim! – A boa? Nem te conto. Tô me sentindo um lixo. Não tem problema algum, é só cansaço e TPM, vou melhora. – TPM? Você é do tipo que nem pode encostar? Senão a proposta é relaxar! Tá afim? – Não. Sou do tipo que chora por tudo e por nada, penso muito, falo pouco e fico mal humorada, mas consciente. – Então você fica de TPM sempre e eu nem sabia! Pô, nem quero ver! He, he, he – Sempre? É todo final de mês. Ninguém quer me ver assim. Acho que por isso fico triste. Nem mais conto com as amigas. – Calma linda, eu gosto te ver a qualquer hora! Se quiser relaxar estou a sua disposição – Brincadeirinha! O que mais o doutor poderia me indicar além da proposta de relaxar? Suas técnicas são eficazes? – Como você é especial e exigente, a eficácia depende do seu grau de aceitação. E minha indicação é ver um filme agarradinho comendo pipoca para você perceber que alguém se importa contigo. Ah, que tal você também liberar um pouco de suas emoções, ta faltando isso! Gostaria de te oferecer algo para te deixar segura! – Valeu! Nada como uma consulta ao meu guru para mudar meu dia. Queria saber de você. – queria saber de mim? O que? Guru? Só se for tântrico! – Quais emoções? Bem legal a consulta. Parece profissional. Pode me oferecer o que puder e quiser. Fale o que quiser de você. – Falar de mim? Eu tô na necessidade de te confortar e não só com palavras! E você tem que especificar o detalhe que quer de mim. – Não cério que essa seja a sua única necessidade, nem que esteja me acostumando tão mal assim. Depois não reclama. – Mal acostuma ou não, você não ta sabendo aproveitar! Necessidades são múltiplas e precisam ser saciadas, me ajude? – Vou pensar se ajudo e me aproveito de você. Desculpa, mas no momento tô precisando dormir. Daqui a pouco falo com você. – No que posso ajudar/ realmente, também acho que não sei aproveitar. To com preguiça, pode. O que sugere? – Tem algo em você que me fascina, me intriga e me deixa com raiva. Sua trava me incomoda e você não diz porque está assim. Se solta, seja feminina, instintiva, fale, demonstre algo, se liberte. Serei o catalizador. – É! O pior é que isso me incomoda também. Seria ótimo se eu fosse assim, mas é demais para mim, partir para essa etapa! – Vou te levar para cama, você vai suarmuito, vai delira, pegar fogo, gemer, sentir calafrios. Ass. Gripe (ha, ha, ha). Desculpa, eu não queria ter te mandado isso, juro! – He, próximas etapas são complicadas. Como não consigo entender suas motivações, me resta esperar. Devo? – Voltando, não sei o porquê, mas você é um dos poucos seres que me conseguem deixar a vontade. Estamos quase atingindo a plenitude. – É, e é alg que você evita. Esse evitar permite bem menos do que nossas capacidades. Nosso grau de alinhamento vai nos permitir ser mais do que somos. – Não deve ter noção de quanto é difícil para mim. Sugestão? Anestesia geral. Só assim para me envolver sem neurose. – Anestesia para eu te explorar melhor. Um dia a plenitude é nossa. – Relações um pouco parecidas já vivi antes. E o que me restou delas? Alguns momentos legais e muitos de mágoa. – Nada. O que você tá vivendo é diferente. Possibilidade de poesia, de lirismo, de sentirmos algo que valorize nossa vivência. – Lógico que não sou louca de te comparar com os outros homens né? Mas a anestesia anularia a possibilidade de sofrimento – Desliga essa porra ae, tem cerveja e rango aqui. – Calma, já to indo – Sempre achei isso tudo muito etéreo – Ter receios é normal no mundo limitado, mas quês saber? – Me dá isso aqui, pronto, desliguei essa merda. – Obrigado – De nada.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Mais Concreto que o Abstrato!


Reflexões persuasivas levam a algum lugar? Um misto de sentimentos tão complexos como organismos que compõem células nos fazem correr e se esconder; fugir e aparecer; escutar, mas não ouvir; morrer e viver; dizer, mas não falar; mudar... Hermeticamente fechado a chaves duplas e correntes são os sentimentos desta metade, do qual nem mesmo as janelas da alma transparecem verdade. Talvez seja infinito e borbulhante o movimento que proporciona a dúvida. Certeza de que está tão viva como a luz de uma explosão (1. Comoção (1) seguida de detonação e produzida pelo desenvolvimento repentino duma força ou pela expansão súbita de um gás. 2. Detonação, Estouro). Autodestruição pode ser somente uma porta do labirinto. Fuga. Autoajuda. Autoexplicação. Assim como o tato em várias partes, em várias peles, em vários lábios, em vários pensamentos. Tão proposital como a falta de parágrafos são as ações, deixando extravasar (1. Derramar; Fazer Transbordar. 2. Manifestar; Expandir. 3. Sair)... Amor, Dor, Paixão, Terror, Ternura, Compaixão, Alegria, Tristeza, Medo, (In)Segurança, CONFUSÃO, ou trancafiar dentro de um pedaço de carne tornando as águas mais clamas. Quem disse que o melhor porto é seguro? Visto o momento dos fatos nada mais proporciona segurança, nem mesmo o mais concreto do abstrato! Como dizia o tal do Humberto – “Todo mundo é uma ilha”.

25/12/2007

Aproximadamente
04:30!



Incorfomado