domingo, 3 de janeiro de 2010

Intervalo


Eles resolvem fazer operetas com os gemidos vindos do quarto ao lado. Justamente os gemidos que ouvi de madrugada depois que cheguei tenso, puto, frustrado. Ligo para ela e ouço-a dizer que não quer mais porra nenhuma comigo. Porra. Pego a MPC e componho batidas para a letra de rap que escreverei após vomitar o excesso de cerveja tomado em comemoração a volta de um amigo querido que estava exilado. Sampleia as operetas! Sampleia as operetas! Durmo de cara com a MPC e computador ligados. Sonho com o engravatado discursando: “Temos que reavaliar as noções de comportamento nesta nova fase do capitalismo moderno em que vivemos em territórios fragmentados, com lógicas exógenas, sem regulamentações, permeando a lógica da confusão dos espíritos, o falecimento da moral. Com o perdão da expressão: - Uma tremenda de uma putaria!”. Acordo assustado, todo babado, em cima do teclado e com a voz da minha mãe ecoando: Levanta para tomar café! Resolvo verificar meu e-mail e leio mensagem importante? Abro e vejo a foto de meu melhor amigo enrabando a minha namorada? Ué, ela nem gostava de fazer sexo anal. Sinto uma pontada na cabeça e caio estatelado. Recebi uma pancada de um pedaço de madeira. Minha visão turva identifica minha namorada e minha mãe. Elas cospem em mim. Aaaaaaaaaaaai. Ela coloca a opereta no último volume. Ainda consigo ler os lábios dela dizendo: - Gostou dos gemidos, sogrinha? Ha, ha, ha, ha, ha. Tento levantar e recebo um chute no queixo do meu melhor amigo e desmaio de vez. Talvez seja esse o intervalo que eu precise.......

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