domingo, 18 de julho de 2010

Origens


Na mata
Enlaçada
Levada para a casa
Estuprada
Que nada
Minha mãe disse:
Como pode a índia ser casada
Com o português?
Casada nada
Ela mesmo foi
Estuprada
Uma única filha
Que casou com um africano
Escravo suburbano
Lei áurea
Cadê os planos?
Meu avô teve terras
Empregados
Ficou esquizofrênico
Tomaram tudo do coitado
Grileiros desgraçados
Quilombolas desalmados
Cana-de-açucar produtora de calos
Se extrai as cachaça
Que alimenta diabos
Ibejis
Euá
Oxalá
Os orixás não são demônios
Demoníaco é o efeito do álcool
Os pretos batem nas pretas
Os pretos botam elas para correr
A preta divide com a mãe a responsabilidade
Cria vários irmãos, divide sua ascendência
Do outro não sei direito a descendência
Só sei que tem um monte que não quer ser preto
Nem que os filhos sejam pretos
Não aceita amantes pretos
Mas não dá para correr de ser preto
Pois parece tudo uma tremenda confusão
As duas partes alimentaram o senhor de engenho
Cão
Arvore genealógica difícil de decifrar
Resultado desse almagama que está a declarar
Que foge da esquizofrenia
Que ignora o diabo
Talvez aceite uma cachaça
Mas o que pode ser válido
É mesmo cobrar
Os reparos do estupro
Do sangue derramado.

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