terça-feira, 30 de junho de 2009

O Mar


As ondas sempre impressionam pela continuidade. Parece que nunca cansam. São cíclicas e não se importam. Com quem as desafie. Elas fazem questão de mostrar que sempre estarão lá e derrubarão quem tiver no caminho. Surfistas? Putz, quem dirá embarcações...
A imensidão do mar assusta. Nunca sabemos onde termina muito menos onde começa. Na beira da praia talvez. E quem tenta decifra-lo talvez só o nomeie. Só que são tantas nomeações e as fronteiras são tão frágeis quanto os náufragos.
Não se preocupe. Tudo ficará mais calmo. Iremos resolver a situação. Reforçaremos as embarcações. O mar bravio não irá nos fazer desistir. Tomara meu Deus, tomara.
E quem disse que estamos quites com vocês? Não querem se molhar amigos? Quem quer ser marinheiro? Quem quer enfrentar o mar? E não estão dispostos a entender como funciona. Pelo amor de Deus, assim não dá.
Eles mergulham no mar e enxergam Jesus Cristo. Eles mergulham no mar e enxergam Buda. Eles mergulham no mar e enxergam Maomé. Iemanjá reclama e o comandante se diz ecumênico. Tenho a ligeira impressão de que você não sabe onde pisa. Que sua empreitada como comandante é um grande fiasco e não admite. Não sabia que no mar haveria tempestades? O casco do seu navio não é resistente. Não previram os rochedos, os corais. E para que muitos marinheiros? Não sabia que a embarcação ia pesar? Não quer fazer o óbvio?
A onda é gigante e te engole. Os marinheiros morrem afogados não poderá mais andar.
O mar sempre triunfará, sempre triunfará, sempre!

terça-feira, 23 de junho de 2009

A Rede


Quando era pequeno, admirava um senhor que na porta de sua residência tecia uma rede com linhas de naylon para pescar. Era um trabalho intenso, meticuloso, bonito. Ficava ali bem cedinho e eu passava para ir para a escola.
A interação das pessoas passa pelo processo de reconhecimento de características comuns. Eu vou gosta de você se de certo modo eu me enxergar em você. E vou odiá-lo se alguma característica em você me incomodar profundamente como se eu soubesse que o contato direto com algo que abomino vai me tornar um ser abominável.
Para prender as pessoas, não usamos redes e sim grades. E ainda isolamo-las para não incomodar. Lógico que existe um aparato de vigilância. Na rede as pessoas se debatem até cansar. Depois elas arregalam os olhos e percebem o olhar inquisidor. O olhar assusta a alma e não se tem muita coisa para fazer.
Os espaços de divisão são o suficiente para que o controle seja eficaz. Ele quer o controle. E a qualquer momento as coisas podem fugir do controle. Assina aqui filho! Está construído a etapa máxima de tentar não sair do poder nem tão cedo. É verdade. A rede é construída com fios de aço.
Talvez a troca entre os pontos seja fundamenta para quem almeja sair da mesmice. E quem entende isso? Muitas pessoas. Eles querem ocupar os espaços, isso eles querem. Todos? Tem que haver espaços para oxigenação.
Ele se orgulha pelo trabalho bem feito. A rede de naylon está pronta para ser usada e sua eficácia será testada em alto-mar. Com certeza virão muitos peixes e se terá o suficiente para a venda e subsistência. Ela vai ter lucro.
Os homens corruptos não sabem tecer redes. Eles pagam para alguém tecer. E quem é pago é incompetente.

terça-feira, 16 de junho de 2009

O Peixe


Um cardume de sardinhas tenta chegar ao seu destino. Milhares juntas enfrentando as agruras da trajetória longa e complexa. E ainda existem os predadores que atacam por todos os lados. Tubarões, gaivotas e pescadores com suas redes. E ainda milhares sobrevivem e chegam ao seu destino.
No restaurante pediram peixe-frito acompanhado com vinho tinto. Não sou muito chegado a peixe, mas vamos lá, tudo pela articulação. Conversamos sobre os rumos que a cidade vai tomar, sobre os projetos e sobre a grande possibilidade de crescimento, caso eu adira ao projeto. Como o peixe-frito, degusto o vinho e penso. Eles querem uma resposta de imediato. Vão ficar querendo, pois por ora somente o peixe-frito me agradou.
Que peixe é esse que você tá assando? Chamam de Olho de Cão, mas sei lá se é isto mesmo. Ah... Você vai gostar. Tomara. Disseram que você conversava com os grandes. É, conversei. E aí? Eles querem adesão ao projeto deles. É? Sim. E você? Eu comi peixe-frito. E a possibilidade de ser peixe? Não sei nadar.
Tubarões, bagres, peixes-espada, olhos de cão, pirarucus e outros mais. Essas porras sempre têm aos montes, mas há quem queira ser cavalo, cachorro, gato, tigre e até mesmo porco. Porco? Porco não, é sacanagem. Porco é sujo. Sabe uma vantagem que o porco tem sobre os demais? Hum? Um porco nunca morre afogado. E o peixe se sair do seu habitat natural, já era. Pegou o espírito da coisa?
Resolvi que não preciso ser similar ao peixe para sobreviver no mar bravio.
Gosta de sardinha frita? Gosto não. Só tem isso para comer. Eu frito um ovo. Já é então. A sardinha é guerreira. É a que sobrevive em meio a ataques de predadores de toda a espécie. Vou fritar um ovo aqui, já é? Já é.