segunda-feira, 10 de março de 2008

Encontros Normais




Ela morde os lábios toda vez que a excito com palavras. Filho da puta. É aquela preta que eu observo a bastante tempo, esperando a oportunidade para destilar o veneno. Ela me olhava desconfiada e nem chegava perto.

Bocejos, bocejos e bocejos. Estou com sono, sentado na cadeira de um ônibus semi-lotado. Geralmente sento em um lugar estratégico, nas cadeiras altas e observo as pessoas adentrarem no veículo, mas o dia não é um dos melhores e opto pelo cochilo. Tem dias que os movimentos oníricos são bem aceitos devido ao dia estafante e estou aceitando os movimentos com certa facilidade, porém sou cutucado. Não dorme não. Não gosto de demonstrar que estou assustado, então só abro os olhos e é a preta do meu lado. Esboço um sorriso e me recomponho. Ela morde os lábios.

Estou em um banco da praça conversando com a preta sobre vários assuntos. Interessante a exposição das nuances. A maneira como se é abordada o contexto abre espaço para sacanagens e insinuações. Observo o vestido florido dela e pergunto quando colherei aquela flor. – Flor ou flores? – O que você permitir. Tá certo, penso comigo e escuto todos os sons que o corpo dela pode produzir. Nem todos, vai. Ela mordeu os lábios inúmeras vezes.

Gostaria de elaborar um tratado sobre o que é transar com uma mulher preta/ só que todo e qualquer tratado sobre transar com uma mulher preta poderia soar com exótico, estereotipado, preconceituoso e até mesmo machista. Só que eu me amarro nas mulheres pretas. No momento estou vidrado em uma. Ouço suas reclamações, introduzo provocações e nos propomos reflexões. Tá, isso é tudo? Nem é, pois nem transamos ainda. Ela se propõe a ter estratégias de evasão que nem são eficientes, mas o papel de displicente me cabe quando quero observar o limite do comportamento alheio. As mordidas do lábio são mais comuns do eu imaginava. Nem vale a pena ficar comentando. Está evidente.

A preta senta no meu colo e a beijo. Lábios suaves, suaves. A descrição de um momento sexual é tão excitante quanto banal. De a preta engolir o meu pau até as bolas ou gozar diante de uma penetração intensa e constante. É, suamos para dar algumas gozadas e depois ficamos abraçadinhos tentando descrever todo o caminho que nos levou a aquele momento. Putz, que banalidade. Todo um esforço de pensamento para acontecer o ato inúmeras e inúmeras vezes. – Vem cá pretinha, não vão correr de mim. – Correr de quem? Eu te encaro com gosto.

Preparo o café na cafeteira elétrica e ela me observa. Observação tola, mas mesmo assim ela me observa. Pergunto o porquê dela me olhar com tanta persistência e a preta diz que é apenas conveniência. Conveniência? Eu sorrio e dou um copo de café para ela. Sento em frente a ela e explico todo um projeto de vida no qual penso faz um tempinho. Ele diz que me admira. Grande coisa. Ela diz que me admira. Grande coisa. Ela diz que me admira. Repetitivo isso. Ficamos planejando até o entardecer, depois saímos para comprar açaí. E depois? E depois? E depois foi um sexo gostoso.

Caramba, já se passou tanto tempo e estamos praticamente olhando sobre as mesmas perspectivas. A nossa imaginação é guiada diante de momentos profundos de interação. As coisas vão se descortinando em períodos não cíclicos cuja obra não se restringe a mera resenha crítica. Porcaria de coisa complexa. Totalmente sem sentido essa merda. – preta, pega o casaco, hoje vai fazer um brio. – Você me esquenta? – Esquento, mas pega o casaco. – Tá bom. Ela mordeu os lábios quando percebeu que depois de tanto tempo eu ainda me preocupava com ela. Talvez seja esse o grande lance. Só ficaremos nos talvez. – Filho da puta.

Um comentário:

Q. disse...

Olá! Você comentou lá no meu blog (metropolis sorri), já faz tempão... só fui ver agora (ando meio relaxada em relação a ele...) rs